domingo, 30 de janeiro de 2011

Pedindo Licença



Maria Augusta Libânio

Quero, hoje, pedir licença ao mundo para chorar.
Quero encontrar aquela lágrima que se petrificou no fundo de minha alma.
Lágrima que me daria a dimensão da dor e da vida.

Não mais encontro o meu eu, no tanto tempo perdido.
Não o encontro na face escancarada em gargalhadas caricaturais,
dando ao mundo a figura que ostento na covardia da sobrevivência

Quero lágrimas que tenham a coragem de lavar esta máscara,
que me faz tão mentirosa,quando me visto de princesa,
guardando os andrajos no escuro da alma vazia.

Tirem-me a máscara!
Lavem-me do lodo da ilusão.
Venha, em enxurrada, purificar-me.
Despejem a bílis que amargura uma vida,
quando as cores são falsas e as dores são camufladas.

Tirem-me da vitrina de modelos cintilantes.
Deixem-me vestir meus trajes rotos
de tanto se arrastarem pelos caminhos
O caminho perdido no inventar uma rota de crenças infundadas

Não me olhem com olhos de louros metalizados,
como jóia azinhavrada em velhos baús,
onde falsas jóias empoeiram-se por séculos.

Mundo onde patino em passos lentos,
devolva-me as minhas lágrimas.
Não as esconda de mim.
São as únicas que me restam.

21/11/07

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